quarta-feira, 23 de março de 2011

Reflexões Acerca da Noção Tomasiana de Homem





Nota Prévia:
O autor do texto abaixo aborda a temática em seus aspectos mais gerais, dando ênfase porém, a aspectos filosóficos. Certas “sub –temáticas” , digamos assim, que se vão surgindo no decorrer da exposição serão aprofundados em trabalhos posteriores. 


Por Fr. R. G. Santos

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente texto é compreender a noção “tomasiana” do homem em seus aspectos gerais, de caráter mais otimista, sobretudo no que se refere à matéria, esclarecendo, com relação a tal assunto, alguns  conceitos fundamentais, a partir de pontos oriundos de algumas de suas obras. Ao final perceber-se á o quão positiva é a análise que faz o “aquinate” do homem, retomando e até aperfeiçoando, à luz das noções de criação e de finalidade, a reflexão aristotélica acerca da temática.

O ARISTOTELISMO NA FILOSOFIA CRISTÃ E O ROMPIMENTO COM CERTA TRADIÇÃO PLATÔNICA

Devido a uma série de fatores, é o século XIII tido como o período  áureo do “medievo” em todos os âmbitos,  sobretudo em termos de produção filosófica. Alguns, como por exemplo Realle e Antisseri (1990), chegam a dizer que o mesmo é período fundamental de toda a filosofia.
O fato é que realmente esse século foi de profunda intensidade intelectual. E a reflexão “tomasiana” representou uma “novidade” no contexto de seu surgimento por conta do ponto de partida aristotélico que dá às suas especulações, que toma vulto notório nos tempos de Tomás. A esse respeito, diz-nos Realle e Antisseri (1990, p. 532) que “do ponto de vista mais propriamente cultural, o acontecimento filosófico de maior relevo no século XIII é constituído pelo conhecimento e a lenta difusão do pensamento de Aristóteles, tanto no que diz respeito à física como a metafísica”.
O ilustre dominicano, nesse sentido, acompanha os rumos tomados por sua escola, que segundo análise de autores como Sciacca (1967), tentam valer-se do aristotelismo para, “cristianizando-o”, defender com maior ênfase a ortodoxia cristã.
Entrementes, convém nesse momento estabelecer esse nexo que “une” Tomás e Aristóteles em termos práticos. De que termos aristotélicos o “aquinate” lança mão para erigir sua noção de homem? Podemos citar aqui vários termos, sobretudo de ordem metafísica. Entre eles, nos interessa de modo especial nessa reflexão destacar, além da noção de ser,  as  de forma, essência e substância, além de um termo angular para o trabalho que ora nos propomos realizar: o “sínolo”.
É este o composto de matéria e forma que constitui, obviamente, uma só substância composta. Em Aristóteles, a forma concede o ser das substâncias compostas em sentido mais pleno do que a matéria. No homem, a alma corresponde à enteléquia, que pode ser entendida como “realização”. Nesse sentido, e comentando o estagirita, Realle e Antisseri (1990) vão salientar que enquanto essência e forma do corpo, a alma é ato e enteléquia no corpo e, em geral, todas as formas das substâncias sensíveis são ato e enteléquia.
Tal concepção unitária do homem, levando em conta a matéria de modo mais positivo, abre caminho para um rompimento com o dualismo, então vigente em certas escolas medievais que, segundo Japiassu e Marcondes (1996, p. 75), é a “(...) doutrina segundo a qual a realidade é composta de suas substâncias independentes e incompatíveis.” Nesse ínterim, e acentuando a tendência dualística platônica, à qual Aristóteles começa por estabelecer rompimento, e que predominara em muitos autores pagãos posteriores e até em pensadores cristãos, Dutra (1996, p. 10) vais salientar que no ateniense a dicotomia era estabelecida entre o “mundo do Ser: das formas, conceitos e idéias eternas (e o) mundo do Vir-A-Ser: dos particulares transitórios, das aparências”.
Como vimos acima, assumir a noção aristotélica não foi, por certo, uma “ocasionalidade” em Tomás, visto que tal “assimilação” dá largas a uma interpretação mais positiva do homem enquanto ser criado por Deus, que é essencialmente bom e, mais do que isso, é a própria bondade. Com efeito, diz Santo Tomás (1990 p. 80) que “ser em ato é, para cada coisa, o seu bem. Ora, Deus não é só ente em ato, como também se identifica com seu próprio ser (...). Logo, Deus é a própria bondade e não somente bom.”
Sendo Deus bom por excelência, sua obra só pode ser boa, mesmo que por participação. O homem, enquanto ser composto de matéria e forma (corpo e alma), é criatura de Deus. Logo, é inteiramente bom em todos os seus aspectos.
Aqui o “aquinate” rejeita claramente uma tendência platônica que vigorava, (da qual já começamos por aludir acima) ainda que de modo mitigado, em muitos pensadores cristãos de seu tempo. Tal tendência consiste em conceber o homem numa perspectiva dualista.
Com efeito, o dualismo platônico tomava a matéria em termos negativos, sendo obra de um deus mal. As almas se unem aos corpos em caráter de punição. É portanto uma visão dicotômica da relação alma e corpo. A esse respeito,  Realle e Antisseri (1996) afirmam que, de acordo com a reflexão platônica,  o corpo é visto não tanto como receptáculo da alma à qual deve vida juntamente com suas capacidades de operação, mas sim o contrário, é entendido como “tumba”, como cárcere da alma.
Vê-se assim que Aristóteles, com uma concepção mais positiva da relação matéria e forma, no entendimento das substâncias compostas, poderia ser utilizado com mais tranquilidade pelo doutor angélico em sua elaboração.

CONCEPÇÃO METAFÍSICA

A obra o Ente e a Essência, pertencente ao “corpus tomisticum”, aborda sobretudo questões de fundo metafísico. Nela percebe-se o vigor especulativo do “aquinate” e de modo especial, sua tendência à síntese e ao rigor na precisão das questões. Dentre essas, vale destacar, em nosso estudo, as referências à noção de homem.
Tomas vai dizer que a essência do homem é sua humanidade, que significa aquilo em virtude do que o homem é homem e não outra coisa. Tal entendimento é abstraído do homem concebido num sentido unitário, já que, segundo o “aquinate” (1996, p. 29), “(...) não é somente matéria nem forma que determinam, por si sós, o ser do homem, mas sim a união dos dois. A esse respeito, diz que “(...) é necessário, em virtude da qual uma coisa se denomina ente, não consista só na matéria ou só na forma, senão nas duas juntas, embora só a forma seja cousa, a seu modo, de tal se ou essência”.
Com relação à matéria (corpo) no homem, ou melhor, em sua noção universal, devemos considerá-la enquanto matéria “não signada”, visto que é entendida não numa concepção particular e concreta, mas sim enquanto integra a noção conceitual apenas.
A alma, enquanto princípio que informa o corpo e com ele compõe a noção de homem, é simples, ou seja, espiritual e portanto incorruptível. Tal idéia Tomás a define com o seguinte raciocínio (1990, p. 257): “(...) nenhuma substância intelectual é composta de matéria e forma, Logo, nenhuma substância intelectual é incorruptível”.

FIM ÚLTIMO DO HOMEM EM TOMÁS

Vimos até aqui a exposição acerca da constituição do homem na perspectiva de sua identidade, a saber, daquilo que ele é de fato. Doravante, passaremos a analisá-lo na perspectiva de sua mais profunda vocação ontológica. Iremos destacar, assim, sua razão de ser, sua finalidade, segundo a reflexão do “aquinate”.
Nesse sentido, devemos salientar que, em primeiro lugar, ele é ser criado. E criado por um ser pessoal, boníssimo em si mesmo. Esse ser é Deus. Ele criou do nada todas as coisas, concedendo-lhes o ser.
Além de criar, o Princípio Supremo sustenta e mantém amorosamente todas as coisas por sua providência. Esta, segundo o próprio “aquinate”, (1977, p. 160),  “(...) dirige as coisas conforme o modo de cada uma.” Assim sendo, cuidará de cada criatura, conforme seu modo peculiar de existir. Logo, ao homem cabe um cuidado próprio e generoso por parte de Deus, visto que ele (homem) possui racionalidade e liberdade.
Sendo racional e livre por excelência, o Ser supremo, ao criar o homem, ao conceder-lhe o ser, o fez com vistas a um fim. E aqui o “aquinate” parece demonstrar todo seu otimismo com relação à sorte do homem. Diz (1997, p. 166) que “a consumação do homem consiste na consecução do último fim, que é a beatitude perfeita”. Esta seria a felicidade, que segundo o próprio doutor angélico, reside na união plena com Deus , o que ele chama visão beatífica, ou de Deus mesmo.
Mais adiante, em sua obra compêndio de teologia, (1997, p. 166) ele se propõe a pormenorizar os detalhes desta união ao dizer que a visão divina se atinge “(...) pela imutabilidade da inteligência e da vontade. A inteligência atinge então a imobilidade, porque, chegando à visão da causa primeira, na qual todas as coisas podem ser conhecidas, cessa a sua função inquiridora. Cessa a mobilidade da vontade, porque, tendo ela atingido o fim último, no qual está contida a plenitude de toda bondade, nada mais resta a ser desejado”.
Esta é, logo, a finalidade do homem em Tomás: Atingir, por virtude divina, é bom ressaltar, a visão beatífica. Em sua existência, o homem deve agir com vistas à união com Deus. Tudo o que faz deve tender ao bem.

CONCLUSÃO

Foram estas as reflexões que, a nosso simples e limitado ver, se fizeram necessárias acerca da temática em questão. Vimos que Santo Tomás, iluminado pela luz da mensagem de Cristo na revelação, e guiado, no campo da especulação natural, pela doutrina aristotélica; chega a uma noção altamente interessante do ser humano. Fugindo do dualismo, o concebe de forma unitária e harmônica, ressaltando o valor notável da sua dimensão corpórea, material, hoje tão tristemente esquecido por muitos grupos que inclusive atuam na Igreja Católica... Por fim, à luz do conceito cristão de criação, postula para o homem um fim sobrenatural a colimar, a saber, a visão do Eterno, que começa na busca de Sua glória nesta vida, e em Seu gozo na outra.

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REFERÊNCIAS
AQUINO, S. Tomas de. Suma Contra os Gentios – Livros I e II. Trad.  D Odilão Moura. Porto Alegre: escola Superior de Teologia S. Lourenço de Brundes, 1990.
AQUINO, S. Tomas de. Compendio de teologia. Trad. D. Odilão Moura OSB. Rio de Janeiro: Presença, 1977.
AQUINO, Santo Tomás de. O Ente e a Essência. Trad.Luis João  Baraúna. Bauru: Nova Cultural, 1996.
DUTRA, Lucas  Vieira. O Dualismo Mente-Corpo: Implicações
Para a Prática da Atividade Física
Editora: CopyMarket.com, 2000
Acesso em: 05/10/10
JAPIASSU, Hilton,   MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editor LTDA, 1996.
REALLE, Giovani, ANTISSERI, Dário. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 1990.
SCIACCA. Michel Frederico. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1962


segunda-feira, 21 de março de 2011

São José, patrono da Pia




 Por Saulo Eleazer
 
     São José é um modelo sublime dos defensores de Nosso Senhor. Aquele que desejar tornar-se paladino do Corpo Místico deverá ter no esposo de Maria Santíssima a fonte de seus anseios, o alimento de suas pretensões. Se o fizer não falhará nesta santa empreitada.
O que escrevi?! “Esposo de Maria Santíssima”! Que graça! Que honra indizível! Quisera poder expressar em palavras louvores devidos por tal dignidade, porém, não o posso. Acredito que nem mesmo os anjos poderão  fazê-lo devidamente.
Portanto, para honrar a São José, tentando condensar numa frase esplendores incalculáveis, basta repetirmos o imponderável: “Salve, esposo de Maria!” Então, os anjos se “comoverão”, e, ele, no silêncio adorador de sua alma, explodirá em louvores por tal dádiva.
Realmente, que esposa! Rainha dos céus, Rainha da terra, e, para abafarmos todas as outras dignidades: Mãe de Jesus Cristo, o Deus encarnado! É glória demais para simples criaturas! Uma, é Mãe do próprio Deus, a outra criatura, esposo desta mesma Theotokos. Estamos perante realidades que transcendem a simples especulação humana; só Deus poderá elevar-nos à contemplação devida de tais mistérios.
Imaginem os senhores se pudéssemos observar, um segundo que fosse, a santa convivência deste casal! Os olhares, os sorrisos, as palavras... Enfim, todo e qualquer movimento, desde um simples bocejo, até um ósculo esponsal, este, puro e angélico; que magnífico seria! Suplicaríamos a Deus, entre lágrimas e gemidos, que nos deixasse ali por toda a eternidade.
Então, São José, porte ereto, viril, fitar-nos-ia com candura, a nós, discípulos de seu filho. Maria Santíssima se alegraria ao ver, a pesar de tanta miséria humana, o acanhado reconhecimento, por nossa parte, da grandeza de seu esposo. E, por fim, nos apresentaria o Divino Infante. Oh, Deus! Calemo-nos aqui.
Que poderia ser dito perante aquela criança extraordinária?Nada. Deus é para ser adorado.
Senhores, terminemos assim nossa reflexão: Calados.
Calados pela grandeza do menino.
Calados pela grandeza de sua Mãe.
Calados pela grandeza de São José, esposo de Maria Santíssima. E, nem falamos de sua paternidade...

São José, esposo de Maria, rogai por nós!